Associativismo Atividade cívica

Associação Nacional de Direito ao Crédito (ANDC) (1998-2008)

O Nuno e o microcrédito: um dos primeiros apoiantes

A Associação Nacional de Direito ao Crédito (ANDC) foi legalmente criada a 14 de dezembro de 1998 e na ficha da proposta do Nuno Teotónio Pereira como associado figura a data de 30 de dezembro de 1998. Esta proximidade de datas diz tanto sobre o quanto as pessoas que criavam realidades novas desejavam o apoio do Nuno, quanto sobre a sua disponibilidade para se envolver em novos projetos.

E, de facto, a ANDC representou algo de inteiramente novo em Portugal. O sucesso do microcrédito no combate à pobreza era já uma evidência incontestável em vários países do mundo, mas faltava saber se em Portugal também poderia contribuir para esse fim. A Associação nasceu para mostrar que existiam no país pessoas para quem o acesso ao crédito (de que estavam excluídas pelas instituições bancárias existentes) seria suficiente para iniciarem uma pequena atividade económica por conta própria que lhes permitisse ultrapassar o limiar de pobreza em que se encontravam e, assim, superarem a exclusão económica e social em que viviam.

Foi a esse objetivo que a ANDC se entregou ao longo de duas décadas, articulando, de modos que foram variando ao longo do tempo, a análise de micro projetos empresariais e da resiliência dos candidatos a empresários, com as vias de obtenção do crédito bancário e o acompanhamento das empresas nascentes. Vários milhares de empresas viram assim a luz do dia. Umas com mais sucesso do que outras. Mas sempre possibilitando a pessoas que não tinham junto dos bancos “credibilidade para obter crédito” criarem um projeto empresarial da sua responsabilidade e receberem apoio financeiro e acompanhamento personalizado para o concretizarem.

A operacionalidade do microcrédito, as etapas e os passos concretos de cada processo, a formação dos animadores e tudo o mais que foi necessário pensar e montar para iniciar a Associação e, depois, as sucessivas correções introduzidas no seu modo de atuar e realizar o microcrédito não foram assuntos em que o Nuno se envolvesse. O seu apoio não foi técnico. Ao fazer-se associado naquele momento inicial, o Nuno veio, como outros que então o seguiram, oferecer credibilidade a uma iniciativa que bem precisava dela, pois não apenas propunha algo de completamente novo no país como se propunha agir entregando crédito bancário a pessoas avaliadas pelo próprio sistema bancário como não elegíveis, não dignas de confiança, para obterem tais fundos. Ele e outros como ele foram decisivos para que a ANDC franqueasse as portas que até então estavam fechadas para aqueles a quem a Associação apoiava.

O Nuno só deixou de ser associado quando a ANDC já estava bem institucionalizada. Anos depois a própria Associação acabou por decidir pôr termo à sua atividade. A história do microcrédito não acabou, mas a da sua percussora, sim. Mas, no seu início, lá encontramos a impressão digital do Nuno.

Jorge Wemans
Janeiro de 2022

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