Associativismo Património

APAI – Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial (1980- )

A ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE ARQUEOLOGIA INDUSTRIAL E NUNO TEOTÓNIO PEREIRA

A APAI – Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial – é uma associação de defesa, salvaguarda, conservação e valorização do património industrial de âmbito nacional, especializada em arqueologia industrial, uma disciplina arqueológica que estuda as sociedades industriais contemporâneas resultantes dos processos históricos da Revolução Industrial e das industrializações subsequentes. A APAI surgiu da ampliação de fins e objectivos da Associação de Arqueologia Industrial da Região de Lisboa (AAIRL), fundada em 1980, no bairro de Alcântara.

Em 2022, a APAI completa quarenta e dois anos de existência, dispõe de sede própria, tem uma dinâmica invejável no movimento associativo e um currículo notável nos campos da intervenção arqueológica, na interpretação da sociedade industrial portuguesa, na criação de museus de indústria, na salvaguarda e classificação de edifícios e conjuntos industriais, no inventário do património industrial e na valorização, através de trabalhos próprios ou através de estudos dos seus associados, de unidades fabris, bairros operários, máquinas, aparelhos, utensílios e produtos do património móvel das diferentes eras da industrialização.

A APAI envolveu-se desde 1980 no Movimento das Associações de Defesa do Património (ADP). Hoje integra a Plataforma pelo Património Cultural (PPCULT), um organismo interassociativo de carácter nacional, cujo papel interventivo tem geralmente impacto nas políticas patrimoniais do país, dado o seu carácter crítico e de denúncia das atitudes e atropelos aos valores da identidade e memória que ocorrem no território português, sobretudo durante os períodos de crise patrimonial. Para além disso, é uma das cinco associações fundadora e coordenadora do Fórum Património, em 2017, sendo da sua responsabilidade a organização da 5.ª reunião anual, na Central Tejo, em 2021. Por sua vez, em 1989, integrou um seu representante eleito na direcção do INAMB – Instituto Nacional do Ambiente e esteve envolvida nas lutas ambientais das décadas de 1980 e 1990. Organizou encontros, colóquios e conferências nacionais, ibéricas e internacionais. Procedeu a intervenções arqueológicas e envolveu-se em projectos de criação de museus industriais e a curadoria de exposições sobre temas afins. Recentemente procedeu ao estudo científico e à proposta de conservação do Titã Norte do Porto de Leixões (um dos guindastes gigantes da sua construção do último quartel do século XIX). A APAI é uma das associações portuguesas inscritas no TICCIH – The International Committee for Conservation the Industrial Heritage.

Ficha de inscrição de NTP na APAI

Nuno Teotónio Pereira esteve profundamente ligado à AAIRL (1980-1986) e à sua sucessora APAI (entre 1987 e 2016). Muitos arquitectos que privaram com Nuno Teotónio Pereira e muitos portugueses que conhecem a sua obra desconhecem as suas profundas relações com a APAI. Teotónio Pereira foi um dos sócios fundadores, tendo participado em muitas das suas sessões públicas, desde os seus primórdios, quando a associação apenas se circunscrevia à área metropolitana de Lisboa. Manteve-se sempre como um associado activo, participando nos órgãos gerentes e contribuindo para a sua afirmação e relevância no quadro das estruturas associativas do país e na afirmação dos seus fins e valores, mesmo depois de ter adoecido.

Nuno Teotónio Pereira inscreveu-se na AAIRL, na sequência do primeiro convite associativo de uma primeira comissão instaladora que sugira em Alcântara, em Fevereiro de 1980. A sua adesão ocorreu pouco tempo depois da primeira reunião realizada no Departamento de História da Faculdade de Letras de Lisboa, em 19 de Março de 1980. Na sua ficha de inscrição apontou a razão principal da sua adesão: «Estudo sobre o alojamento operário na cidade de Lisboa»[1], um tema que o ocupava desde há alguns anos e que fora objecto de um estudo sobre a evolução das formas de habitação plurifamiliar em Lisboa, que editou policopiado em 3 volumes, em 1979, o qual permanecerá nas suas preocupações e revisões nos anos seguintes. A este trabalho associará a sua jovem companheira e mulher, Irene Buarque, a quem encarregou da fotografia dos imóveis, facto que viabilizou a edição de parte daquele estudo em 1995, numa edição impressa de Pátios e Vilas de Lisboa[2].

Nos anos seguintes proferirá várias conferências e orientará visitas guiadas. Na APAI, enquanto uns estudavam os espaços de produção, os empresários e os sistemas tecnológicos, Teotónio Pereira mostrava a dimensão social da exploração do trabalho por via dos pátios, dos pardieiros, da habitação e dos bairros dos trabalhadores. Mas envolveu-se também na museologia de espaços industriais – assunto que dominava enquanto arquitecto modernista do bairro industrial dos Olivais – dirigindo o projecto de arquitectura para a Tinturaria Pombalina do Museu da Universidadae da Beira Interior (UBI), na Covilhã.

Jorge Custódio
Abril de 2022

  1. A sua inscrição ocorreu em 1980, obtendo o número de sócio 29. Quando se constituiu a APAI, o número de sócio fundadores foi sorteado e coube-lhe a numeração 7, na lista dos fundadores.
  2. Editado pela Livros Horizonte. O trabalho de 1979 será publicado em 2017, depois da sua morte, pela Câmara Municipal de Lisboa com o título de Evolução das Formas de Habitação Plurifamiliar na Cidade de Lisboa, a partir do espólio que doou ao Município em 2013.

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