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GHabitar – Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional (2003- )

Ao contrário do que acontece com muitos de nós, o Nuno Teotónio Pereira era/é alguém que, ao longo das suas muitas dezenas de anos de efetiva atividade e participação social, nunca perdeu a capacidade de se sentir empenhado e mesmo apaixonado por novos desafios e designadamente em todos os desafios ligados a um dos seus motivos-base de vida: a reflexão teórica e o ensaio prático (sempre bem interligados) sobre a qualidade do habitat humano e, neste, sobre a defesa e o aprofundamento de uma verdadeira qualidade da habitação de interesse social, naquela fundamental perspetiva que todos devíamos partilhar e que ele designa da “habitação para o maior número”, partindo-se naturalmente do princípio de que se está a tratar de uma boa habitação: bem adequada para todos e para o maior número de pessoas, muito urbana, em todo o sentido da palavra “urbana”, e bem adequada a uma cidade bem habitada e culturalmente enriquecedora.

Também neste âmbito, que se considera essencial, mas raro, do desenvolvimento “natural” e continuado de estudos teórico-práticos sobre a habitação e o espaço urbano, surgiu o Grupo Habitar – Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional (APPQH), atualmente designado como GHabitar – APPQH, uma associação técnica e científica basicamente multidisciplinar e sem fins lucrativos, que teve a sua primeira Assembleia-Geral “oficial” em 3 de Dezembro de 2003, em Lisboa, na Sala 2 do Centro de Congressos do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), reunião à qual presidiu, entre outros companheiros, e como um dos designados “associados de honra”, o Nuno Teotónio Pereira.

Se as dezenas de reuniões técnicas e visitas e os quatro congressos internacionais CIHEL – Congresso Internacional da Habitação no Espaço Lusófono – foram atividade suficiente do GHabitar? Com certeza que não, tendo-se feito o que foi possível, com um mínimo de apoios institucionais, mas salientando-se, aqui, o vital apoio do LNEC, do INH/IHRU e da FENACHE, e com um máximo de boas-vontades de um grupo coeso de associados fundadores; mas se mais “Nunos” houvesse e mesmo com a idade que tinha já quando aderiu ao então Grupo Habitar, hoje designado GHabitar, então muito mais teríamos feito.

A vontade de pensar a sério “o habitar”, que se julga ter, hoje em dia, novamente, caráter de urgência e de grande exigência, está sempre presente na vida e no pensamento do Nuno, e ele logo entendeu que essa foi e é a razão-base da existência do GHabitar e do seu “filho” semanal o blog/revista Infohabitar, onde ele também escreveu; e seguindo a escola da exemplar presença do Nuno, com as suas regulares opiniões sobre o habitar e a cidade, nos meios de comunicação social e editoriais, aproveita-se para referir que, infelizmente, uma tal urgente exigência com a qualidade arquitectónica e social do habitar de todos nós, não parece estar presente, de forma constante e gradualmente melhorada, na nossa vida diária e nas preocupações de muitos responsáveis pelo atuar sobre o habitar e a cidade.

E talvez por isso o Nuno, além de todo o apoio que deu ao início do GHabitar, decidiu deixar a sua valiosa coleção bibliográfica e documental sobre habitação e urbanismo, em primeira linha, ao então Núcleo de Arquitectura e Urbanismo (NAU) do LNEC e ao GHabitar (que estava então sediado no NAU), entidades que, na altura, eu coordenava; e foi só na sequência desta primeira decisão do Nuno e da ideia, que depois vingou e com a qual ele concordou, de esse importante acervo documental poder ficar mais útil e muito mais resiliente, se integrado na própria Biblioteca do LNEC, que assim se procedeu, tendo-se conseguido criar nesta Biblioteca o que constitui uma verdadeira memória viva e útil do Nuno, no âmbito de um núcleo documental que, fisicamente, mantém de forma quase integral a presença e a organização que o Nuno lhe deu, mas que se encontra digital e totalmente integrada no banco de dados da Biblioteca do LNEC, tendo assim um máximo potencial de divulgação e de capacidade para a continuidade, sem limites temporais, de um verdadeiro serviço público nas vitais áreas de uma habitação bem humanizada e de uma cidade bem habitada; cumprindo-se, desta forma, o que se julga ser o devido respeito pela memória viva do Nuno e pela sua constante intervenção social e arquitectónica.

Para terminar este pequeno texto, referem-se, em seguida, os temas em que o Nuno estruturou a sua coleção de habitação e urbanismo, hoje disponível na Biblioteca do LNEC, “forrando” uma extensa parede de uma agradável sala virada a Sul e contígua a uma zona arborizada, e que fizemos questão de manter inalterada em termos físicos, embora, tal como se apontou, integrando informaticamente o catálogo da Biblioteca: bibliografia de habitação; bibliografia de habitação, autores estrangeiros; bibliografia de urbanismo, Portugal; bibliografia de urbanismo, estrangeiro; revistas (listadas); congressos, colóquios, seminários e cursos (listados e com a totalidade da do documentação entregue nos mesmos, frequentemente anotada); recortes de imprensa (listados); apontando-se, ainda, a existência de interessante documentação de trabalho associada a edições do Nuno Teotónio.

António Baptista Coelho
Dezembro de 2021

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