A importância dada por Nuno Teotónio Pereira ao associativismo no plano profissional é evidente, considerando que lhe dedicou perto de seis décadas. A sua longa e continuada actividade incidiu fundamentalmente no Sindicato Nacional dos Arquitectos (SNA) e na Associação dos Arquitectos Portugueses (AAP). Embora colaborando também com a Ordem dos Arquitectos (OA), estes foram já anos de homenagens e reconhecimento da sua relevância e do seu incontornável protagonismo na defesa da profissão.
Foi a 22 de Maio de 1949, pouco tempo depois de ter terminado o curso, que se inscreveu no SNA, iniciando em 1951 a sua participação directa nos trabalhos associativos. Fez parte dos corpos sociais do Sindicato entre 1957 e 1962 e, ainda em 1966 e 1969, anos em que é impedido de tomar posse pelo Instituto Nacional do Trabalho e Previdência devido à sua actividade política. Paralelamente, participa em outras actividades sindicais, tais como o «Inquérito à Arquitectura Regional Portuguesa», sendo responsável, de 1956 a 1958, pela equipa da Estremadura, da qual fazem parte António Pinto de Freitas e Francisco Silva Dias. Intervém no “I Colóquio do Habitat”, organizado pelo SNA em 1960, ano em que será o primeiro delegado português ao Comité do Habitat da União Internacional dos Arquitectos, cargo que desempenha até 1966 e, intervém no “Encontro Nacional de Arquitectos” em (1969). O início dos anos 70 será um período conturbado, do ponto de vista político e pessoal, não se registando uma participação assídua nos assuntos sindicais.
Desempenhando um papel fundamental na definição dos principais problemas que se colocavam aos arquitectos nos anos 50 e 60 e nas suas linhas de reflexão, Teotónio Pereira empenhar-se-á na defesa do uso do título de arquitecto e, no rescaldo do Congresso de 1948, faz parte dos profissionais que “tomaram consciência da sua importância na sociedade e da parcela de poder que podiam usar para influenciarem as decisões no sentido de se abrir caminho para novos rumos.” (Um testemunho sobre a arquitectura nos anos 50. SNBA, fev. 1983. In PEREIRA, Nuno Teotónio – Escritos (1947-1996, selecção). Porto: FAUP, 1996). Já os anos 60 colocariam novas questões: por um lado, “uma nova geração, marcadamente apolítica, (…), sem qualquer interesse pela actividade sindical” e, por outro, “os mais dinâmicos elementos da geração de 50 [que] se desinteressavam também ou eram impedidos de nela participarem activamente”, ao que acrescia, “de um ponto de vista pragmático e imediato” a constatação de que “as atitudes de independência em relação ao poder político que vinham sendo prosseguidas nenhumas vantagens traziam à classe nas suas aspirações e nas suas necessidades.” (Sobre a actual situação do Sindicato, maio 1966. In PEREIRA, Nuno Teotónio – Escritos (1947-1996, selecção). Porto: FAUP, 1996, p. 71).
Em 1974, o SNA inicia a sua transformação em AAP, o que se concretiza em 1978. Embora herdeira de um amplo caderno reivindicativo, enquanto órgão representativo dos arquitectos portugueses, viu abrir-se um vastíssimo campo de acção devido às profundas transformações em curso na sociedade portuguesa após o 25 de Abril de 1974. Foi o tempo em que Teotónio Pereira, exercendo ou não cargos directivos, foi sempre uma voz activa na afirmação do direito à arquitectura, na definição do estatuto profissional, na regulamentação dos concursos, no reforço do trabalho associativo através da descentralização e regionalização da sua actividade, na reflexão do papel do arquitecto na sociedade, na promoção da coesão interna fortalecendo e tornando mais actuante o papel associativo junto do Estado e da sociedade, na defesa do património, na discussão das implicações que a integração de Portugal na Comunidade Europeia trouxe para a profissão, entre muitas outras questões.
Relembre-se, que Teotónio Pereira participou em todos os Congressos da Associação, foi eleito Presidente do Conselho Directivo Nacional da AAP nas primeiras eleições directas para os seus órgãos nacionais (1984-1986; reeleito em 1987-1989), foi presidente da Mesa da Assembleia Geral (1989) e presidente do Conselho de Delegados (1990-1993). Decorrendo dos seus cargos associativos, foi ainda eleito responsável pela coordenação das acções entre os presidentes das associações de arquitectos da Europa com vista à criação de um novo organismo representativo da profissão à escala da CEE (1989) e integrou a 1ª direção do Conselho Nacional das Profissões Liberais (1989), actual Conselho Nacional das Ordens Profissionais.
Em 1994, das cerimónias de inauguração da nova sede faz parte a sua nomeação como Sócio Honorário da AAP. Dois anos depois, assinalando o Dia Mundial da Arquitetura, o arquitecto faz uma importante doação bibliográfica à Biblioteca da AAP.
Em 1998 a AAP assume a designação de Ordem dos Arquitectos. Teotónio Pereira participa no seu 1º Congresso (2000) e, em 2003, é homenageado pela OA no âmbito do Ano Nacional da Arquitetura. Em 2010, na 39ª Reunião Plenária do Conselho Directivo Nacional é aprovado que o auditório do edifício-sede da Ordem se passe a denominar «Auditório Nuno Teotónio Pereira», assinalando “o relevante papel associativo” do arquitecto “desde o 1º Congresso Nacional de Arquitectura, em 1948, e homenageando a sua ampla dedicação à defesa do papel social e do pleno reconhecimento público da profissão de arquitecto em Portugal”, evocando, assim, os 60 anos da sua carreira profissional.
Importa sublinhar que estes 60 anos de carreira profissional são os mesmos 60 anos durante os quais se dedicou à vida associativa, em que escreveu numerosos textos/artigos de opinião para jornais e revistas especializadas, em que viajou e representou por várias vezes os arquitectos portugueses, em que se empenhou em causas por opção política e exercício do seu direito de cidadania. Anos em que partilhou a sua energia e saber com todos os que o rodeavam. Anos em que tudo conciliou e em que viveu o pleno da sua vida profissional, pessoal e familiar.
Ana Isabel Ribeiro
Janeiro de 2022
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