Numa entrevista ao Notícias da Covilhã, em 1959, à pergunta do jornalista “Como nasceu a ideia da formação do M.R.A.R.?”, o Nuno respondeu: “A ideia não nasceu: impôs-se-nos. Teve de ser. A certa altura, um pequeno grupo de artistas católicos, alguns ainda estudantes, viu-se formado e logo cresceu com a adesão de uma dezena de sacerdotes, críticos de arte e mais artistas. As actividades iniciaram-se em 1952 com reuniões periódicas e uma exposição didáctica de arquitectura religiosa que foi inaugurada na galeria anexa à igreja de S. Nicolau e que tem sido apresentada em muitas cidades da Metrópole, das Ilhas e do Ultramar.”
Continua o jornalista: “Como dirigente do Movimento de Renovação da Arte Religiosa, quais as maiores dificuldades que encontrou no começo deste movimento? E quais as realizações principais?” A resposta: “As dificuldades que temos encontrado têm sido sobretudo da nossa parte: somos poucos, temos pouco tempo e falta-nos às vezes a preparação necessária para as tarefas de grande responsabilidade e urgência a que somos chamados. Mas há ainda outras: a falta de formação e de informação artística de grande parte do clero e das elites cristãs: daí os preconceitos, as reservas, a desconfiança. Mas os que têm o espírito aberto e sincero recebem com entusiasmo o que tenha a marca da sinceridade, da humildade e da pureza. E ainda outra dificuldade: a baixa comercialização dos objectos de culto, que despida de preocupações formativas, continua a oferecer ao público o que há de pior.” (PEREIRA, Nuno. “A Igreja das Águas integra-se no grande Movimento Renovador tanto no plano artístico como no religioso”. Entrevista de António dos Reis. Notícias da Covilhã, 10 jan. 1959).
No mesmo ano, numa outra entrevista, a propósito da igreja das Águas, o Nuno explicou melhor o que é o MRAR: “A Igreja das Águas integra-se evidentemente no grande movimento renovador que se manifesta em nossos dias, tanto no plano artístico, como no religioso; a arte sacra está na convergência destes dois planos, ambos em movimento, e por isso se pode falar da sua renovação: é o encontro de uma fé mais autênticamente vivida e de uma liturgia revigorada nos seus valores essenciais com uma arte que também redescobriu certos valores que andavam perdidos (…). No que respeita propriamente à arquitectura, parece-me muito esclarecedora a síntese que aparece nas directivas do Episcopado alemão para a construção de novas igrejas: «As mais nobres necessidades do homem do nosso tempo devem encontrar na igreja a sua satisfação: o desejo imperioso de vida comunitária; a ânsia de verdade e autênticidade; o desejo de passar do superficial ao que é central e essencial; a ambição de clareza, luminosidade e visibilidade; a veemente aspiração de silêncio e paz, de calor e segurança».
“E quais são os meios de acção do vosso movimento?”
Procuramos em primeiro lugar esclarecermo-nos a nós próprios Mas, entretanto, vamos organizando exposições e conferências, visitas de estudo, fazendo pequenas edições de textos fundamentais e de um ainda modesto boletim. Temos procurado lutar sempre contra o espírito de comercialização dos objectos de culto e diligenciar que a execução das obras de arte sacra seja confiada a artistas competentes (…)”. (PEREIRA, Nuno Teotónio, “Conversando com o arquitecto Teotónio Pereira”. Entrevista de José Reis. O Século, 28 jun. 1959).
CONTEÚDOS RELACIONADOS
Ver MRAR – Movimento de Renovação da Arte Religiosa
Ver Projeta a Igreja Paroquial das Águas