Arquitetura Prémios

Projeta o edifício comercial conhecido como “Franjinhas”, em Lisboa. Com João Braula Reis (1965-1969)

1962

Arquitetura Igreja católica Prémios
Participa no concurso para a construção da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Lisboa. Com Nuno Portas. 1º Prémio (1962-1976)

1963

Atividade política
É co-fundador da publicação clandestina Direito à Informação (1963-1969)
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1964

Atividade política
É co-fundador da cooperativa cultural Pragma (11 abril 1964-1972)
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1965

Arquitetura Prémios
Projeta o edifício comercial conhecido como “Franjinhas”, em Lisboa. Com João Braula Reis (1965-1969)

1967

Atividade política
É preso pela primeira vez, no âmbito do processo de encerramento da cooperativa Pragma (6-10 abril)

1969

Atividade política
Participa na fundação da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos (31 dezembro)
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1970

Atividade política
É preso pela segunda vez, no âmbito do processo dos Cadernos GEDOC (27-29 maio)
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No dia 17 de abril de 1972 a primeira página do Diário Popular titulava sob uma fotografia do edifício de escritórios situado no cruzamento entre as Ruas Braamcamp e Castilho: “Mamarrachos…”. E continuava: “A fisionomia de Lisboa está a ser substancialmente alterada com a construção de edifícios de traça bizarra, monumentos de evidente mau gosto. O Diário Popular inicia hoje a publicação de uma série de fotografias desses mamarrachos, que os atropelos ao bom senso e o acasos da fortuna fizeram com que fossem surgindo em algumas das mais belas ruas e avenidas da cidade.” O debate, que se tornou uma campanha, batizado de “Os mamarrachos em questão” mobilizou dezenas de portugueses e prolongou-se até junho, com publicações quase diárias nas primeiras semanas. Personalidades como José Augusto França, Vitorino Nemésio, Flórido de Vasconcelos (então chefe da Repartição dos Serviços Culturais da Câmara Municipal do Porto), os arquitetos Carlos Roxo, Keil do Amaral, Januário Godinho, Raul Coelho e Fernando Gomes da Silva,  e os artistas Tomás de Melo (conhecido como Tom), Martins Correia (escultor) e Carlos Botelho (pintor), entre outros, pronunciaram-se extensivamente, alguns por duas vezes.

Os leitores também participaram. “Os leitores aplaudem”, noticiava o jornal (25 de abril), escolhendo uma “entre as numerosas cartas que temos recebido de aplauso à nossa campanha”: “(…) Trata-se, em meu entender, de uma autêntica campanha de saneamento. Creio que podiam ir mais longe, se começassem a protestar logo que o camartelo abre a bocarra, onde irá, depois, nascer o inevitável mamarracho”. A opinião de um outro leitor: “Sr. Director – Venho protestar, junto de V., contra o jornalista que teve o mau gosto de intitular “mamarracho” o edifício, de uma belíssima modernidade, cuja fotografia saiu no «Diário Popular» (29 abril). Cinco leitores, dos quais dois se identificam como estudantes (7 de maio), escrevem: “Estas «campanhas de saneamento poderão promover ainda mais a expansão do «D.P.». Até há imprensa que vive de «gesticulações» como estas. Espero que o «D.P.» se contenha, lembrando-se que a grande expansão lhe traz a obrigação de falar verdade, de assumir a responsabilidade que de facto tem na formação dos seus leitores.” Neste mesmo dia, aparece em título, pela primeira vez, a denominação de «Franjinhas», citando um leitor: “O «Franjinhas» poderia ser bonito como «bibelot» – mas, como monstro, nunca!”. A juventude pronuncia-se: “Sr. Director – Tenho seguido com grande interesse a polémica levantada por este jornal a propósito dos «mamarrachos» da capital. Achei que já era altura da camada mais jovem dos leitores deste jornal manifestar a sua opinião a respeito desta polémica. Tenho apenas 17 anos (estou no 7º ano) (…). Penso que estou numa posição intermédia: nem pró, nem contra. Há pois certos reparos a fazer nas duas posições. (…)”. Um “súbdito inglês de passagem em Portugal” não resiste: “Sr. Director – (…) venho por este meio em defesa de um deles [edifícios], o mais atacado em «A opinião dos leitores». (…) Francamente, considero esse prédio verdadeiramente bom no aspecto funcional. (…) Se o sol londrino fosse como o maravilhoso que aqui tendes, de modo a justificar as tais «ceroulas», podem crer que pensaria seriamente na construção de um «Sir Franjinhas»” (20 maio). Já na parte final da polémica, um leitor suspira porque ela não se estende ao Barreiro, e o jornalista portuense Emílio Loubet assegura que a situação no Porto é semelhante à da capital.

Nuno Teotónio Pereira estava na prisão de Caxias quando soube que o Prémio Valmor de 1971, atribuído em 1973, tinha distinguido o “Franjinhas”.

Nessa mesma altura, tendo-lhe sido permitido estabelecer contacto com o atelier e receber material para desenhar, fez vários desenhos para projectos em curso, como um prédio na rua de Santa Marta, que não chegou a concretizar-se. “Neste último caso, desenvolvi os aspectos funcionais e formais que havia aplicado anos antes no edifício da Rua Braamcamp alcunhado de “Franjinhas”, alvo de críticas por uma opinião menos informada e que acabou por receber o Prémio Valmor. Tratava-se de dotar o espaço interior, onde os empregados de escritório passavam quase todo o dia, de soluções de iluminação natural e conforto visual que proporcionassem boas condições de trabalho.

No essencial, consistiam tais condições no seguinte:
– palas que impedissem a incidência directa do sol ao nível das mesas de trabalho, provocando dificuldades de leitura e de escrita, e com isso dispensando os vylgares estores, que confinavam os espaços e reduziam a iluminação natural;
– ao mesmo tempo, as palas superiores deviam servir para reflectir a luz natural, projectando-a para o tecto e daí para o fundo das salas, permitindo um nível de iluminação constante desde o plano das vidraças, contrariamente ao que aconteceria com uma solução convencional;
– por outro lado, as palas inferiores deveriam estar no seguimento do tecto, por forma a que o espaço interior não fosse limitado pelos caixilhos, prolongando-o para além destes e proporcionado assim melhores condições de desafogo para os trabalhadores;
– do ponto de vista construtivo, as palas inferiores seriam a assim o prolongamento das lajes dos pavimentos e as superiores seriam prefabricadas e com alguns intervalos, para desobstruir os aparelhos de ar condicionado;
– os elementos construtivos mencionados criavam uma expressão formal bastante forte, acentuando o contraste entre as sombras e as superfícies iluminadas. De notar que, estando a fachada virada e nascente, as soluções previstas para os topos sul e norte são diferentes, dado que, neste último caso, não haveria incidência solar.

É a este processo criativo que se pode aplicar a designação de Arquitectura feita de dentro para fora: em primeiro lugar para ser vivida; e logo depois para ser vista.” (Nota para o Centro Português de Serigrafia / Galeria Prates, 2006).

Em 21 de junho de 2011 o Ministério da Cultura classificou o “Franjinhas” como monumento de interesse público.