Foi a Faculdade de Arquitetura do Porto que tomou a iniciativa de publicar um conjunto de «escritos» (como o próprio autor designava os seus vários tipos de intervenção implicando o suporte papel, que eram sempre manuscritos, e só depois dactilografados ou impressos) que cobrem quase meio século de reflexão e tomadas de posição. Como sete anos mais tarde haveria de ser a mesma Universidade a conceder-lhe o seu primeiro doutoramento Honoris Causa. Uma ligação que vinha de muito jovem, quando em 1946 frequentou o 6º ano na Escola de Belas-Artes do Porto: “Nessa época a EBAP constituía a Meca dos estudantes de arquitectura de Lisboa, confrontados com o ambiente de repressão e discricionariedade que se vivia na EBAL.”
Uma arquiteta de Lisboa, Helena Roseta, prefaciou o livro. Conheceu o Nuno Teotónio nos anos sessenta, andava ela na EBAL, passou pelo seu atelier levada por Nuno Portas, no início da década de 70, e foi acompanhando o seu percurso, na profissão e no empenhamento político e social, cruzando-se com ele, ao longo dos anos, em momentos e atividades concretas. No texto que escreveu consegue, sobre o fluir do tempo, sublinhar fases essenciais, desafios permanentes e ideias-chave de quem, inconformadamente, os quer enfrentar.
As 37 intervenções selecionadas, escritas ou orais, são geralmente concisas, claras e desprovidas de ornatos, à imagem de si próprio e das suas conceções do que deve ser a arquitetura. Podem parecer díspares, mas refletem um percurso que se vai desenvolvendo e frutificando, sem quebrar a coerência. Aqui não há só obra arquitetónica, só luta contra a ditadura, a injustiça e a desigualdade. Há pensamento, leituras dos contextos, fundamentos para a ação.
A dedicatória espelha um dos traços reconhecidos do atelier da R. da Alegria, o trabalho partilhado: “Ao Nuno Portas, ao Pedro Botelho e ao Bartolomeu Costa Cabral que em épocas diferentes partilharam generosamente comigo os seus talentos e me ajudaram a ver mais claro nas coisas da profissão.”
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