A primeira edição, da responsabilidade da Livros Horizonte, do estudo realizado em 1978 e 1979, no quadro de uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, está esgotada. Por isso a Câmara Municipal de Lisboa (CML), à qual foi oferecido, em 2013, todo o espólio do trabalho, se interessou em preparar uma nova edição, aumentada, cujo lançamento ocorreu a 30 de janeiro de 2017, um ano depois da morte do Nuno. O título também mudou e de “Prédios e vilas de Lisboa” passou para “Evolução das formas de habitação plurifamiliar na cidade de Lisboa”, correspondendo ao original.
A habitação plurifamiliar é definida pelo autor como “o conjunto de unidades de alojamento familiar (ou fogos) que integram uma mesma unidade de construção (edifício ou prédio)”. O estudo abrange “apenas a fase da expansão de Lisboa que vai até aos anos trinta do século XX, com particular relevo para o período posterior ao pombalino. Tal critério encontra fundamento no facto de serem os edifícios de todo este período que estão mais imediatamente ameaçados de destruição e corresponderem por outro lado à fase de maior expansão contínua da cidade.”
Igualmente importante é a menção ao que não foi objeto da investigação, pelo que sugere como «caderno de encargos» para futuros trabalhos: “Ficaram assim excluídos (…) tanto o período áureo do prédio de rendimento, que se seguiu à legislação proteccionista do «Estado Novo», como a fase mais recente da promoção imobiliária em grande escala, característica da concentração e fortalecimento do capital financeiro. Do mesmo modo ficaram excluídas outras formas de habitação plurifamiliar que se desenvolveram nos últimos 40 anos: por um lado, a habitação dita social, produto da iniciativa oficial (Estado, Câmara e Previdência) e por outro os sistemas marginais, em que os edifícios plurifamiliares, não sendo exclusivos, aparecem em larga escala, como no caso dos bairros clandestinos. Ficam ainda para ulterior estudo situações de degradação ou de adaptação que, embora não reduzidas aos últimos decénios, têm assumido crescente importância pelo agravamento da crise da habitação: os casos de superlotação ou de sub-divisão de fogos que, embora não constituindo tipologias autónomas e coerentes, modificam radicalmente ao nível do uso os edifícios em que se inserem e provocam por vezes alterações substanciais do sistema distributivo, da organização do espaço interno e da própria expressão urbana desses edifícios.”
“Para uma primeira aproximação tipológica, Nuno Teotónio Pereira fez um levantamento preliminar em larga escala no qual identificou mais de um milhar de edifícios e pequenos conjuntos de habitação dita «corrente», distribuídos por 6 grandes períodos – edifícios anteriores a 1755; reconstrução e expansão após o Terramoto; novos bairros na 2ª metade de oitocentos; alojamento operário no arranque da industrialização; grande expansão na viragem do século; influência do Movimento Moderno. Deste universo selecionou os exemplares a estudar e documentar com maior detalhe (ao nível do objeto e do seu enquadramento urbano) para integrarem o documento final (…). Nele identificam-se edifícios e conjuntos pouco conhecidos mas de grande interesse – pelas suas características, por serem exemplares expressivos de uma dada época ou por serem casos raros de tipologias quase desaparecidas na sua expressão original.” (MÉGRE, Rita. “Evolução das formas de habitação plurifamiliar na cidade de Lisboa – Nuno Teotónio Pereira e Irene Buarque (fotografia). Lisboa: CML|DMC|DPC, 2017”. Estudo Prévio: revista do Centro de Estudos de Arquitectura, Cidade e Território da Universidade Autónoma de Lisboa, Dez. [Inverno 2016]).
Nuno Teotónio Pereira afirma que “ao nível do património arquitectónico, nenhuma atenção tem sido dada a exemplos característicos da habitação corrente (…). O trabalho de investigação que foi feito visa pois o estudo particularizado deste fenómeno, com a identificação e análise das realizações mais características da habitação plurifamiliar ao longo do desenvolvimento urbano de Lisboa.”
Rita Mégre, no artigo atrás citado, explica: “São 272 fichas de inventário de edifícios e conjuntos (com texto de caracterização, planta de localização e fotografia), divididas pelos 6 períodos (com respetivo mapa-síntese) e ordenadas em 23 tipologias – das «casas de andares de ressalto» à «fase modernista dos Anos 30», cada uma com um texto de enquadramento e descrição das principais características construtivas. (…)” A edição da CML complementou o trabalho realizado: “Assim, tratando-se de um estudo com quase 40 anos, revisitaram-se e fotografaram-se todos os locais no sentido de identificar as transformações ocorridas no edificado e na envolvente. Como resultado, respeitando a estrutura e conteúdos do documento original, introduziu-se informação complementar, nomeadamente, uma fotografia comparativa e pormenorização de moradas.”
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