PEREIRA, Nuno Teotónio. Portugal: um guia para o processo. Lisboa: Editorial SLEMES, ago. 1976.
Textos, cartografia e coordenação SIPC – Serviço de Intercâmbio Político e Cultural. Ilustrações e fotografias Poder Popular.
Co-aut. com Diogo Mesquita Quintela e Frederico Paula. [Não assinado]
O presente GUIA foi elaborado com vista a poder fornecer uma informação rápida e sintética sobre alguns aspectos do processo desencadeado em Portugal com o 25 de Abril. É destinado, tanto àqueles que não puderam acompanhar a evolução global desse processo – embora o vivendo porventura intensamente em aspectos parcelares – como aos que não conhecem em pormenor muitas das suas concretizações mais significativas. Não se pretende evidentemente exaustivo e muito menos fornecendo todos os dados necessários para a sua compreensão. Contém no entanto indicações factuais e elementos de análise social e política – alguns dos quais inéditos – partindo do princípio, mais do que provado, de que não há informação que não seja politicamente perspectivada. Por outro lado, inclui referências concretas de localização, com indicação dos lugares que foram teatro dos principais acontecimentos e das lutas travadas pelo povo trabalhador ao longo de mais de dois anos.
O GUIA desdobra-se nos seguintes capítulos:
O PROCESSO REVOLUCIONÁRIO
Descrição dos acontecimentos desde a agonia do fascismo até ao estabelecimento de democracia parlamentar – o que não significa o encerramento do processo, mas antes a demarcação de uma 1ª fase. Análise da intervenção do MFA e do desenrolar da luta de classes, fazendo ressaltar o confronto entre o poder da burguesia, fortemente abalado pela ruína do colonial-fascismo, e o movimento popular de massas.
A GEOGRAFIA DO PROCESSO
Pequeno Atlas socio-político da terra portuguesa, pondo em evidência certos aspectos que têm condicionado de algum modo o comportamento das populações e assinalando as zonas com mais forte incidência no processo. A relação entre factores de orem natural, estrutura espacial do aparelho produtivo, distribuição da população e influência ideológica pode fornecer dados importantes para a compreensão dos acontecimentos. A famosa divisão norte-sul, da qual algumas causas são assinaladas, aparece não como um fenómeno inelutável, mas como a conjugação de factores de diversa ordem, susceptíveis de alteração com o desenvolvimento da luta de classes.
OS DOCUMENTOS DO PROCESSO
A importância e a frequência de alguns manifestos e tomadas de posição fizeram com que se pudesse dizer em certo momento que revolução e contra-revolução se combatiam à base de documentos. Este facto demonstra a importância da informação em todo o processo e se os ditos não tiveram por vezes uma influência tão decisiva como se tem pretendido, tiveram pelo menos a função de polarizar em alguns momentos as forças em presença. Dos mais significativos se dá um resumo e um comentário, pondo em evidência o papel de cada um no desenrolar do processo.
AS PERSONALIDADES DO PROCESSO
O aparecimento incessante de novos nomes na cena política, tanto de militares como de civis, em consequência da constante alteração da correlação de forças e do surgimento de novas camadas dirigentes, faz cair num rápido esquecimento muitos elementos que tiveram um papel de relevo numa dada fase do processo. Aqui o GUIA está longe de ser completo: apenas se pretendeu registar e caracterizar sumariamente as personalidades mais em evidência pública. Mas reconhecendo entretanto que os grandes agentes que têm defendido os seus interesses de classe foram muitas vezes aqueles que figuram na abertura do capítulo: os soldados e marinheiros, os trabalhadores rurais e os operários anónimos, que assumiram um papel decisivo no movimento de massas que abalou o poder da burguesia.
O VOCABULÁRIO DO PROCESSO
Dois anos e meio de intensa luta de classes, com intervenção activa do aparelho militar e o surgimento de numerosas organizações políticas, produziram centenas de siglas. Registam-se e decifram-se mais de duzentas, merecendo as mais significativas algumas palavras de explicação e comentário
ROTEIROS DE LISBOA, PORTO E CONTINENTE
Muitos lugares onde se deram (e dão) importantes acontecimentos permanecem remotos, escondidos, isolados – ainda que por vezes bem próximos e acessíveis. Por outro lado, zonas fundamentais na luta de classes, tanto nos campos, como nos bairros pobres das grandes cidades, permanecem desconhecidos até de militantes políticos profundamente empenhados. As periferias degradadas para onde é atirado o povo trabalhador continuam a ser mundos ignorados. As indicações que se dão não pretendem fomentar uma espécie de turismo político, superficial e por isso nefasto, mas facilitar o contacto directo entre experiências concretas, indispensável para a necessária unificação das lutas, vencendo as barreiras entre o Norte e o Sul, a cidade e o campo, o centro e a periferia. Os roteiros são inevitavelmente incompletos. Compet eos utilizadores do GUIA completá-los com a sua própria experiência e conhecimentos.