Arquitetura

Biblioteca Jorge Araújo – Universidade de Évora

Instituição
Biblioteca Jorge Araújo
Morada
Campo dos Leões da Universidade de Évora
URL
https://www.bib.uevora.pt/
Data de Entrega da Documentação
19 de abril de 2010
Email
empleoes@uevora.pt
Nome do Fundo
Fundo Nuno Teotónio Pereira
Sigla
LEOES FTP
Período Cronológico
Século XX
Período Mais Representado:
Segunda metade do século XX
Tipologias Documentais
Revistas, monografias, catálogos de exposições
Inventário do Espólio
Integrado no tratamento corrente da Biblioteca
Assuntos
Arquitetura portuguesa / Arquitetos portugueses / Arquitetura internacional
Condições de Acesso
Consulta no local – Sala Nuno Teotónio Pereira da Biblioteca Jorge Araújo

Fundo documental Nuno Teotónio Pereira: uma distinção, uma oportunidade de leitura

A doação de centenas de livros e revistas que documentam a Arquitectura em Portugal no século XX surgiu no contexto de uma Aula Aberta dada por Nuno Teotónio Pereira (NTP) em Janeiro 2009. Da selecção que fez de obras para o curso de Arquitectura da Universidade de Évora importa reflectir sobre os critérios que terão levado NTP a esta escolha. Várias leituras se podem fazer.

Desde já a importância dada às revistas, doando a revista Arquitectura nas suas séries 2a (1932-1970), 4a (1979-1984), 5a (1979-1987), e a Revista Arquitectos (1988-1989), num reconhecimento da importância que a revista oficial da Associação dos Arquitectos tinha na divulgação das boas práticas profissionais,sendo da maior importância os números relativos à 2a série, publicada em pleno Estado Novo. Desta época, destaco os artigos dedicados às construções escolares que, depois dos edifícios Modernistas da década de 30 – Liceu de Beja, Liceu Filipa de Lencastre em Lisboa
e Liceu D. João III em Coimbra – retomam desta pequena exploração construtiva, espacial e pedagógica das escolas pavilhonares em resposta à necessária produção de mais edifícios escolares, particularmente ao nível do ensino secundário. Complementa NTP esta selecção com a doação da revista Técnica: revista de Engenharia dos alunos do I.S.T. (1931-1981) permitindo uma comparação nesta época como entendimento da área da construção por parte dos arquitectos e por parte dos engenheiros. Por último, relativamente às revistas nacionais, o destaque para a Binário (1958-1977) que, durante décadas, divulgou arquitectura, construção e equipamento, destacando o carácter transversal e cultural na abordagem destes temas.

Das revistas internacionais selecciona a Architecture d’Aujourd’hui (1965-1996) e a Casabella (1990-1997). Se a primeira relembra o conhecimento da arquitectura que se fazia em França, e que reconhecia no panorama internacional a moderna arquitectura produzida em Portugal (na notável edição no ano de 1976 dedicada ao nosso país, onde a Malagueira é capa), a segunda mostra a influência do pensar italiano na década de 90 do século passado, como reduto intelectual para uma arquitectura que procurava sair de um pós-modernismo e que encontrava caminho em Portugal num ‘regionalismo crítico’, como Kenneth Frampton tão certeiramente denominou. Não será assim por acaso que NTP inclui o catálogo da exposição Depois do Modernismo (1983)que esteve patente na Galeria Luís Serpa, em Lisboa. São estas as revistas que alguns colegas traziam para a Escola, já Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, ou que consultávamos na Bertrand, quando ainda não havia FNAC e muito menos acesso ao Googlebooks. O conhecimento então disponível ficou assim documentado e disponível para investigação futura, o que nos leva a reflectir se a efemeridade associada aos conteúdos virtuais nos garantirá que o conhecimento de hoje ficará igualmente disponível no futuro. Veremos.

Mas, se as revistas do século XX, que contextualizam a passagem de uma arquitectura ecléctica para um Português Suave, de um modernismo para um pós-modernismo que procurava caminhos próprios, surgirão como atractivo para investigadores, será nas monografias que o espólio será mais procurado pelos alunos. Nomes como, e registo pela ordem da listagem que acompanhou a doação, Keil do Amaral, Raúl Lino, Manuel Tainha, Francisco Silva Dias, Alexandre Alves Costa, Cassiano Branco, Gonçalo Byrne, Bartolomeu Costa Cabral, Porfírio Pardal Monteiro, João Correia Rebelo, José Marques da Silva, Victor Consiglieri, Fernando Távora,Carlos Ramos, Viana de Lima, Álvaro Siza, Nuno Portas, José Luís Monteiro, Raúl Chorão Ramalho, Francisco da Conceição Silva, fazem agora parte da Biblioteca dos Leões. Num inquérito aos alunos, pergunto-me quais os arquitectos de que reconhecerão o nome, saberão a época em que viveram, e de que saberão identificar uma obra, escrita ou construída….

Nesta doação de NTP encontramos ainda uma cuidada selecção de catálogos de exposições nomeadamente de Arquitectura Portuguesa promovidas pela Casa da Cerca em Almada ou pela Fundação de Serralves no Porto, de catálogos de concursos de arquitectura como do prémio Sécil, Thyssen ou AICA-SEC, e de Prémios Nacionais de Arquitectura, de entre outros. Destaca-se o catálogo da exposição itinerante Novas Igrejas na Alemanha (1964), patente na Fundação Calouste Gulbenkian e organizada pelo Movimento de Renovação da Arte Religiosa de que era membro fundador desde 1953, terá sido, desta significativa doação, aquele que mais significado terá tido no seu percurso na arquitectura religiosa, iniciado na Igreja das Águas (Penamacor,1949-1953), e que mais influencia terá tido no projecto da Igreja do Sagrado Coração de Jesus (com Nuno Portas, Vasco Lobo, Vitor Figueiredo, Pedro Vieira de Almeida: Lisboa, 1962-1970). Ainda doa os incontornáveis inventários para o estudo da arquitectura em Portugal no século XX, como o IAPXX – Inquérito à Arquitectura Portuguesa do século XX , iniciativa da Ordem dos Arquitectos (2003) e Arquitectura do Século XX: Portugal , catálogo de uma mostra levada a Frankfurt em 1997.

Destacam-se outras obras de consulta de grande utilidade para estudantes e investigadores em Arquitectura, embora necessitando de urgente actualização, como são as obras Dicionário dos arquitectos activos em Portugal (1994) e Vocabulário técnico e crítico de Arquitectura (1990). Ainda desalientar o livro Arquitectura de Maria João Madeira Rodrigues (2002) que terá esclarecido alguns alunos sobre a profissão que escolheram. Das obras que pessoalmente considero essênciais na formação de um arquitecto não poderia deixar de referir a obra de Fernando Távora Da organização do espaço e Da Função Social do Arquitecto de Octávio Lixa Filgueiras, ambas de 1962 e, refira-se, intemporais. São aliás estas algumas das leituras que selecciono para a discussão em sala de aula com os meus futuros colegas.

Da sua extensa obra publicada, NTP selecciona apenas três livros da sua autoria: uma selecção dos seus escritos (1947-1996), uma edição em co-autoria (1997) dedicada ao Património da Segurança Social denotando mais uma vez a importância que dá à relação entre arquitectura e sociedade, e por último uma publicação de 2005 da Ordem dos Arquitectos sobre o trabalho que desenvolveu para a regeneração urbana da Covilhã. Oferece também a revista Pedra e Cal (1999-2005) onde escreve crónicas que abordam a actualidade, trazendo para o debate público diversos temas, alguns incómodos.

O clássico História da Arquitectura Moderna, de Bruno Zévi (1970) em dois volumes termina uma lista alfabética imensa de obras notáveis que Nuno Teotónio Pereira doou ao Departamento de Arquitectura em Abril 2010, no decorrer da sua Aula Aberta. Fica agora disponível para que alunos, docentes e investigadores lhe possam dar continuidade, aumentando o conhecimento tão necessário sobre a Arquitectura Portuguesa Contemporânea que se encontra disponível na Sala Teotónio Pereira na Biblioteca dos Leões da Universidade de Évora.

Sofia Aleixo
Janeiro de 2022