A origem do CIDAC está ligada à existência do centro de documentação, clandestino, do Grupo do BAC (Boletim Anti-Colonial). Por isso o CIDAC se chamou, quando abriu portas em maio de 1974, Centro de Informação e Documentação Anti-Colonial. A sua principal riqueza, na altura, era essa documentação, apreendida pela PIDE em novembro de 1973, que lhe tinha sido doada depois do 25 de Abril pelos dois responsáveis do BAC que tinham acesso ao centro de documentação clandestino: Nuno Teotónio Pereira e Luís Moita.
“(…) o Movimento das Forças Armadas, passado algum tempo [da libertação dos presos políticos], anunciou que as organizações, os grupos que tinham sido vítimas de buscas e de operações da PIDE, (…) podiam ir a Caxias buscar as coisas que tinham sido… que tinham sido roubadas, apreendidas. E então, nós lá fomos, buscar a nossa documentação, (…) esse arquivo que depois passou para o CIDAC (…)”. (PEREIRA, Nuno Teotónio. Entrevista de Luísa d’Almeida para o CIDAC, novembro de 1998).
“Eu não sei se conseguimos recuperar tudo… conseguimos recuperar de duas fontes: do arquivo da PIDE (…) e há uma outra de que eu tenho a certeza, porque fui eu que tratei… de pedir ao tribunal da Boa Hora (…). A seguir ao 25 de Abril [pedi ao] juiz (…) que coordenava o processo, se ele me autorizava a desentranhar [os documentos]… como o despacho foi favorável…”. (MOITA, Luís. Entrevista de Luísa d’Almeida, para o CIDAC, dezembro de 1998).
A partir daí, Nuno Teotónio Pereira foi sempre doando ao CIDAC documentos ligados à luta anti-colonial em Portugal, aos movimentos de libertação africanos e à construção dos novos países africanos de língua oficial portuguesa. Foram doações feitas ao longo da vida, não numa ocasião específica.
Nos anos 1970 houve uma colaboração especial, por sua iniciativa: Nuno Teotónio Pereira ofereceu ao CIDAC um conjunto de mapas de sua autoria sobre Angola (1975) e a Guiné-Bissau (1979), para apoiar as ações de informação e de formação que a organização realizava em vários contextos.
Toda a documentação doada foi integrada no acervo do Centro de Documentação do CIDAC – que em janeiro de 1977 passou a chamar-se Centro de Informação e Documentação Amílcar Cabral e por altura do seu 30º aniversário (2004) adotou a atual designação, Centro de Intervenção para o Desenvolvimento Amílcar Cabral.
A doação incluiu livros, jornais e revistas, recortes de jornais, documentação cinzenta e cartografia, de várias décadas do século XX. Embora exista um registo do que Nuno Teotónio Pereira ofereceu ao CIDAC, as peças estão fisicamente dispersas, de acordo com a organização geral do Centro de Documentação.
A quase totalidade das referências bibliográficas existentes no Centro de Documentação do CIDAC está disponível em linha, e uma parte dos documentos foi digitalizada e é acessível através da página do CIDAC. A consulta direta do acervo, que se encontra nas instalações da associação, em Lisboa, tem de ser previamente solicitada por email.
Janeiro de 2022
CONTEÚDOS RELACIONADOS
Ver BAC – Boletim Anti-Colonial
Ver CIDAC- Centro de Intervenção para o Desenvolvimento Amílcar Cabral