Arquitetura Habitação

Prémio Nuno Teotónio Pereira 2022

Tiago Teotónio Pereira, neto do Nuno, falou em nome da família. Foto de António Morgado

“(…) O desnível entre as necessidades de habitação e os recursos individuais para as satisfazer constitui o cerne do problema habitacional; desnível abrangendo camadas da população cada vez mais vastas, na medida em que é mais acentuado nos meios urbanos sujeitos a uma forte pressão da procura; e desnível ao mesmo tempo crescente, pois têm aumentado mais rapidamente os componentes do custo da habitação (terrenos, urbanização, construção) do que os salários da população carecida.”

Assim iniciou a Secretária de Estado da Habitação, Fernanda Rodrigues, o discurso na cerimónia de entrega do Prémio Nuno Teotónio Pereira, citando a intervenção deste último no Colóquio de Urbanismo realizado no Funchal, em 8 de janeiro de 1969.

Este Prémio, que representa a distinção mais antiga no setor da habitação, visa a atribuição de distinções de prestígio em duas vertentes: a de Reabilitação Urbana e a de Trabalhos de Produção Científica. A partir de 2016 o Prémio, denominado IHRU, passou a designar-se Prémio Nuno Teotónio Pereira em homenagem ao arquiteto falecido em janeiro desse ano.

A edição deste ano teve o seu epílogo no dia 30 de janeiro – aniversário de NTP – com a entrega do Prémio a sete (em 45) candidaturas na vertente de Reabilitação Urbana e duas (em 10) na vertente de Trabalhos de Produção Científica. Informação detalhada pode ser consultada aqui.

O arquiteto João Manuel Santa Rita recebeu o Prémio pela sua tese de doutoramento “Projectar com o Clima em Portugal: entre o Inquérito à Arquitectura Regional Portuguesa e a Revolução de Abril, 1955-1974”, realizada no Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa, defendida em Dezembro de 2021, com a orientação da Prof.ª Ana Tostões (IST), sendo co-orientador o Dr. Helder Gonçalves (LNEG) e beneficiando do financiamento da Fundação Ciência e Tecnologia.

De acordo como seu autor, “A tese analisa um período da história da arquitectura moderna em Portugal continental em que projectar com clima foi uma das preocupações dos arquitectos portugueses no decurso das décadas de 1960 até meados da década de 1970. Estas preocupações manifestaram-se não só ao nível metodológico, do conhecimento das variáveis climáticas e do ciclo solar, mas também no interesse pela arquitectura vernácula, nomeadamente daquela representada no Inquérito, na sua adaptação à topografia, clima e tecnologias e materiais de construção tradicionais. Tudo isso fazia parte de um processo de humanização da arquitectura, reconhecendo as ciências sociais como a geografia, a antropologia e a sociologia no projecto arquitectónico. A tese identificou os aspectos climáticos da arquitectura vernácula representada no “Inquérito à Arquitectura Regional Portuguesa”, publicado em 1961 sob o título “A Arquitectura Popular em Portugal” e fez uma síntese das características arquitectónicas e construtivas de seis casos de estudo, seleccionadas num universo das habitações unifamiliares construídas nos anos 60, representativas das várias regiões de Portugal, analisando igualmente as estratégias climáticas para obtenção de condições de conforto interiores que foram validadas por levantamentos experimentais aos parâmetros da temperatura e humidade relativa. As conclusões finais da tese reconheceram a eficácia das estratégias de adaptação climática, em especial no regime de verão, e o seu argumento principal procurou demonstrar a importância das estratégias passivas solares para o conforto térmico das habitações que podem ser úteis à prática arquitectónica dos dias de hoje.”

Casa em Vila Viçosa projetada por Nuno Portas e Nuno Teotónio Pereira (1959-1963), um dos casos estudados na tese de doutoramento premiada. Foto de João Santa Rita