UMA OUTRA MANEIRA DE VER A ARQUITECTURA
O Autor chama “A’SSIMETRIAS” ao que um observador comum chamaria, mais objectivamente e sem mudar nenhuma letra mas apenas a relação entre elas, “AS SIMETRIAS”. Mas nenhuma destas versões tem a ver com “ASSIMETRIAS”, que são a negação das “SIMETRIAS”. Simples jogos de letras, como se fossem jogos de espelhos? Pois bem: foi a partir desta analogia que comecei a perceber a enigmática relação entre o ambíguo título dado por Américo Silva a estas fotografias e o conceito que nelas está presente. Mas isso foi apenas o começo, e passo a explicar porquê.
Porque não se trata de simples jogos de espelhos. Seria demasiado óbvio: pegar numa imagem, amputá-la com uma tesoura e obter o seu reflexo a partir da linha de corte poderia dar lugar a todas as fantasias, criando miríficos objectos visuais.
Mas estes trabalhos de Américo Silva vão mais longe: descobrem uma outra maneira de ver a arquitectura e, através dela,a cidade contemporânea. Pela manipulação da imagem, através do desdobramento dos olhares, e de acordo com uma regra precisa, criam-se ambientes urbanos que são como arquétipos das cidades de hoje. À primeira vista inesperados, mas ao fim e ao cabo familiares – nada de mirífico, portanto. E isto, porque os sistemas estruturais, as regras de composição e os valores de escala estão lá, embora exacerbados. Ambientes urbanos palpitando de vida, de movimento, de bulício – ainda que não apareçam ruas, nem gente, nem carros, nem ruídos, nem cheiros. Uma outra maneira, não só de ver a arquitectura mas, através dela, de sentir a cidade.
PEREIRA, Nuno Teotónio. “Uma outra maneira de ver a arquitectura”. Américo Silva: fotografia. Amadora: ed. autor, mar. 2002, p.5 [Catálogo de exposição]
Existe original impresso, jan. 2002, 1 p.
AMÉRICO SILVA (1930- ). Designer gráfico, fotógrafo e gravador.