Arquitetura

João Cartola

À MEMÓRIA DE JOÃO CARTOLA

A construção da nova igreja das Águas, que se desenrolou ao longo de 8 anos, entre 1950 e 1957, foi uma aventura.

Uma aventura para os promotores, a Família Megre, para o Pároco, P. António Lobo, para o arquitecto e para o construtor. Tratava-se de edificar nos confins da Beira Baixa, uma igreja “moderna”, que rompesse com os velhos e degenerados modelos do barroco tardio, que ainda vigoravam na região quando se tratava de arquitectura de igrejas. Foi por tudo isto também uma aposta.

Mas, se havia essa intenção de modernidade, procurou-se no projecto, entregue a um jovem arquitecto, que a nova igreja casasse bem com o sítio e que não significasse uma ruptura violenta com a arquitectura envolvente, integrando-se na paisagem beirã e utilizando os materiais tradicionais como o granito e o castanho.

Tratava-se pois de uma obra diferente do que era habitual, de uma dimensão invulgar para a região, e muito exigente quanto às técnicas de construção. Para a erguer era preciso um Mestre que dominasse perfeitamente os processos tradicionais e também as modernas técnicas do betão armado e que estivesse disposto a correr os riscos de uma aventura. Esse Mestre foi João Cartola.

Mestre Cartola pôs na obra todo o seu saber e todo o seu entusiasmo, que eram tão grandes quanto a sua estatura de homem forte. Homem forte no físico, no profissional, no moral. Competente Mestre-operário, que trabalhava tão bem com o ponteiro e o cinzel como com os varões e as cofragens do betão armado. Muitos pormenores do projecto foram resolvidos com a sua colaboração, pois dava as suas opiniões e fazia os seus comentários sem sombra de receio, mas também sem arrogância.

Conservo na memória a imagem de João Cartola como um exemplo dos antigos mestres construtores que hoje vão rareando. O seu saber, a sua dignidade e o seu brio profissional foram insubstituíveis para viver aquela aventura e para ganhar aquela aposta.

PEREIRA, Nuno Teotónio. “À memória de João Cartola”. Original impresso, 9 maio 1989, 1 p.
Publicação desconhecida.

JOÃO SALVADO DA COSTA (1901-1987). Mestre da construção civil.


HISTÓRIAS DO SÍTIO NTP

Em 24 horas: de Mestre João Cartola ao seu neto, passando pelas mulheres de Medelim

Não tínhamos ideia de como confirmar as datas relativas à vida de Mestre João Cartola nem de como conseguir uma fotografia sua. Lembrámo-nos de que conhecíamos um elemento da Família Mégre, promotora da construção da nova igreja das Águas (1950-1957). Ela não sabia, mas colocou-nos em contacto com uma prima, mais próxima das raízes familiares. Ela também não sabia, mas lembrava-se de João Cartola e de Medelim, a sua terra. Falou à Presidente da Junta de Freguesia, que não sabia, por isso a seguir contactou uma senhora que trabalha num restaurante, talvez soubesse. Não foi o caso, mas era certamente de falar com a senhora do cabeleireiro. Esta o que sabia era que a senhora do supermercado, já alertada pela Presidente da Junta, estava disponível para, ultrapassando o frio e os seus 85 anos, ir ao cemitério fotografar a campa de Mestre Cartola, onde estariam as datas do seu nascimento e morte. Foi, mas deu-se o imprevisto: registou e enviou a imagem da campa de Domingos, o irmão de Mestre João. No entanto, junto, vinha o contacto de João Ribeiro, um dos dois netos de João Salvado da Costa, desde sempre conhecido e lembrado como Mestre João Cartola.