Arquitetura

Lina Bo Bardi

HOMENAGEM A LINA BO BARDI

Comecei a ler acerca de Lina Bo Bardi por volta de 1950 através da revista HABITAT, que publicou uma série das suas imaginativas cadeiras. Depois disso, ocasionalmente, ia tomando conhecimento de alguns dos seus trabalhos, que se desdobravam numa actividade multifacetada, cobrindo diferentes campos da arte. Até que em 1974, após o 25 de Abril, Lina veio a Lisboa com Joaquim Guedes, para também celebrar a festa. Ficámos amigos. Passados dez anos foi a minha vez de ir a São Paulo, onde a fui visitar na famosa Casa de Vidro e admirar o recém-construído complexo recreativo do SESC de Pompeia e o Museu de Arte de São Paulo, com o seu enorme vão livre aberto à rua. Fiquei então a admirá-la intensamente e a procurar seguir mais de perto os seus trabalhos. Escrevo isto no plural porque ela desdobrava-se em formas de expressão variadíssimas.

Romana de nascimento e formação, Lina Bardi adoptou o Brasil como nova pátria. E fê-lo com a energia e a convicção com que fazia tudo na vida. Podia-se ter ficado pelos meios artísticos e intelectuais cosmopolitas e europeizados de São Paulo, mas ao contrário disso assumiu por inteiro a herança cultural brasileira, onde a componente portuguesa tem um lugar preponderante. Isto provou-o bem nos numerosos trabalhos que fez para Salvador da Bahia, na reabilitação do património arquitectónico, com a mesma mestria, engenho e invenção que punha nos seus projectos para edifícios de raiz.

Dotada de uma profunda consciência política e social, Lina assumiu sempre o combate pela Arquitectura Moderna como um contributo para a construção de um mundo novo, mais belo e enraizado no devir da História. As suas vibrantes páginas sobre o alcance social da Arquitectura, coisa que hoje é difícil de discernir, têm algum sabor a utopia, mas são bem o retrato de toda uma geração de criadores que desejavam uma terra mais humana, e para isso contribuíram com o seu talento. A utopia pode fazer-se com as próprias mãos – eis um conceito que pode resumir todo o sentido da vida de Lina Bo Bardi.

Dos seus trabalhos fala a própria exposição. Mas o MASP e a SESC de Pompeia ficam como duas obras-mestras da Arquitectura deste século.

PEREIRA, Nuno Teotónio. “Homenagem a Lina Bo Bardi”. Escritos: 1947-1996: selecção. Porto: FAUP Publicações, 1996, pp. 282-285

ACHILLINA BO (1914-1992). Arquiteta.