Arquitetura Habitação

Vítor Figueiredo

Companheiro de trabalho de Vítor Figueiredo, ao longo de vários anos e em diversas situações, acho importante destacar duas ou três coisas, tendo como referência a sua actividade profissional na chamada habitação social.

A primeira, é que a notável persistência no tema não levou nem à rotineira repetição de soluções nem ao saltitar gratuito atrás de modas ou de brilhantes inovações. A consistência e também a frescura que o conjunto das obras revelam, e que atestam uma grande exigência profissional, são o resultado, por um lado, da experiência ganha em cada trabalho, e que é cuidadosamente transportada para os seguintes, e por outro, de uma pesquisa sempre retomada com ardor.

A segunda, é que Vítor Figueiredo nunca se sujeitou a considerar a “habitação social” como um domínio à parte, com leis próprias e dirigido a determinadas camadas sociais supostamente caracterizadas. Atento embora à observância dos programas e das normas, assumindo com particular realismo as limitações orçamentais, pesquisando até ao pormenor do gesto os aspectos funcionais da casa, soube por isso defender-se de atitudes paternalistas e das correspondentes soluções autoritárias em que é fácil cairmos, os que têm trabalhado com empenho neste sector.

A terceira, à guisa de conclusão, é que estas características são possíveis porque há uma maneira de olhar os utentes que, sem iludir a realidade objectiva das condições sociais, respeita aquilo que na gíria dos anos cinquenta se chamava a dignidade das pessoas, e que se pode talvez designar muito simplesmente por direito à vida. E também acho que tudo isto tem a ver com a alegria e a angústia, com a paixão, e por vezes com a raiva, que Vítor Figueiredo põe naquilo que vai fazendo.

PEREIRA, Nuno Teotónio. “Vítor Figueiredo: arquitecto”. Arquitectura, nº 135, out. 1979, p. 26

VÍTOR MANUEL DE ALMEIDA FIGUEIREDO (1929-2004). Arquiteto.
Entrevista na RTP ao arquiteto Manuel Graça Dias (1993)