Não sou frequente navegador na NET. Com 84 anos, o meu ADN não é esse.
Mas o Nuno, e a Natália, também deixaram tantas pedras bem assentes nos meus alicerces. Com eles aprendi tanto na maneira de estar na vida.
Comecei a conhecer o Nuno por causa da arquitetura, possivelmente pela mão do João de Almeida, padre e arquiteto do Movimento de Renovação da Arte Religiosa. Depois veio a ligação aos católicos progressistas e à sua luta por um mundo (um país, o nosso) onde a justiça, a liberdade e a paz tivessem lugar. Daí a luta contra a guerra colonial através de papéis “Direito à Informação” e outros. Eu pouco mais fazia do que imprimir resmas e resmas de folhas A4 que o Nuno vinha trazer a minha casa.
Lembro ainda a ida clandestina de um grupo comandado pelo Nuno e Natália a Espanha para contactar com pessoas e movimentos de vanguarda; e o envolvimento deles no fazer em Espanha e trazer para Portugal, também clandestinamente, um jornal – “Igreja Presente” – que desse notícias da ida de Paulo VI à Índia, notícias que tinham sido proibidas no país. E é de não esquecer a questão da Pragma. É certo que em tudo isto estive apenas meio envolvido e a fé do Nuno e da Natália de que nasciam as lutas em que se envolviam, foi luz para a minha maneira de acreditar. Toda a minha ligação com o Nuno e a Natália foi estabelecida pelo amigo comum, Pe. António Jorge Martins. Tanta coisa nos alicerces da minha vida. E nunca esqueço o quanto me marcou a morte da Natália; aquele abraço grande entre eu e o Nuno, na noite do velório, junto à igreja do Lumiar, e do comentário que ouvi ao nosso amigo comum, o pintor José Nuno Monteiro da Câmara, ao ver-nos assim abraçados: “Aqueles são amigos de boa cepa”.
Obrigado, Nuno.
António Correia
Fevereiro de 2022
CONTEÚDOS RELACIONADOS
– É co-fundador da publicação clandestina Direito à Informação
– Testemunho de Maria Vitória Vaz Pato
– Cooperativa Pragma