Assuntos pessoais

Cláudio Cavaco

O meu testemunho

A partir de 1973, a família do Nuno Teotónio Pereira passou a ser a minha segunda família. Passava mais tempo em casa deles do que na minha.

Quando o Nuno foi libertado após o 25 de Abril de 1974, deparei-me com uma pessoa extremamente simpática, tolerante e inteligente. Admirava muito o seu passado de luta contra a ditadura e o colonialismo, a sua evolução política e também o seu percurso profissional.

Profissionalmente, tenho uma grande admiração pela obra que deixou, de grande qualidade técnica no seu campo profissional, a arquitetura, mas decididamente orientada por preocupações humanistas e sociais.

Também apreciava muito a forma como mantinha a sua casa sempre aberta para muita gente que lá ia. Muitas vezes a sua casa de Marvão foi utilizada por grandes grupos de amigos da Helena que lá faziam múltiplas estadias.

O Nuno com um grupo de amigos da Helena, em Marvão (1978)

Calhou eu ser militante do MES quando ele era dirigente desta formação política. Um dia convidou-me para ir com ele para fazer uma digressão pelo Norte do País, para fazer sessões de esclarecimento. Em algumas ele pôs-me na mesa da sessão, eu que me sentia ainda tão impreparado politicamente.

Gostaria, por último, de destacar a sua generosidade e humildade.

Por todas estas razões ele faz falta neste nosso tão conturbado mundo de hoje.

Cláudio Cavaco
Março de 2022