O meu testemunho
A partir de 1973, a família do Nuno Teotónio Pereira passou a ser a minha segunda família. Passava mais tempo em casa deles do que na minha.
Quando o Nuno foi libertado após o 25 de Abril de 1974, deparei-me com uma pessoa extremamente simpática, tolerante e inteligente. Admirava muito o seu passado de luta contra a ditadura e o colonialismo, a sua evolução política e também o seu percurso profissional.
Profissionalmente, tenho uma grande admiração pela obra que deixou, de grande qualidade técnica no seu campo profissional, a arquitetura, mas decididamente orientada por preocupações humanistas e sociais.
Também apreciava muito a forma como mantinha a sua casa sempre aberta para muita gente que lá ia. Muitas vezes a sua casa de Marvão foi utilizada por grandes grupos de amigos da Helena que lá faziam múltiplas estadias.
Calhou eu ser militante do MES quando ele era dirigente desta formação política. Um dia convidou-me para ir com ele para fazer uma digressão pelo Norte do País, para fazer sessões de esclarecimento. Em algumas ele pôs-me na mesa da sessão, eu que me sentia ainda tão impreparado politicamente.
Gostaria, por último, de destacar a sua generosidade e humildade.
Por todas estas razões ele faz falta neste nosso tão conturbado mundo de hoje.
Cláudio Cavaco
Março de 2022