Em 1989 tive o privilégio de fazer minha primeira viagem para a Europa com minha mestra Regina Silveira, de quem fui assistente por muitos anos e nesta ocasião a acompanhei para dar assessoria na produção de sua exposição na Fundação Calouste Gulbenkian.
Nesta viagem tive o prazer de ter sido hospedada, conhecer e conviver com artistas queridos, com quem mantenho contato até hoje nesta deliciosa interlocução além mar, Irene Ribeiro e Américo Silva. Felizmente nos reencontramos aqui e aí em outros momentos muito gratificantes que guardo com carinho.
Quero contar que, anteriormente a esta viagem, havia passado o réveillon em Porto Seguro, assim, fiz o caminho inverso aos viajantes da Terrinha, o que me pareceu divertido.
Conto isto porque mais surpreendente e curioso foi quando Regina anunciou que depois de estar com Irene Ribeiro, Irene Buarque, artista brasileira, iria me hospedar em sua casa, na Praça Trancoso, praça de mesmo nome da praia onde estivera há alguns dias antes na Bahia de Todos os Santos, aqui, no Brasil!
Foi no apartamento da Praça Trancoso que conheci Nuno, quem me recebeu de maneira muito generosa e logo senti-me a vontade com o casal.
Não conhecia a importância de Nuno no cenário lisboeta na ocasião, mas usufruí de seu conhecimento em algumas caminhadas a pé do apartamento até a Fundação Gulbenkian em sua companhia. Nuno contava em detalhes a história de cada construção, edifício, praça, rua por onde passávamos e eu sentia todo o encantamento desta cidade. Nuno contou detalhadamente sobre o restauro do Chiado, da catástrofe que foi o incêndio anos atrás, de como cada local permaneceu ou se perdeu.
Não recordo o conteúdo, mas lembro muito bem da paixão como Nuno olhava e fazia-me prestar atenção a cada detalhe no caminho e os contextualizava de modo brilhante.
Até hoje sinto esta alegria juvenil de Nuno, destas caminhadas através dos olhos de quem muito conhecia o solo onde pisávamos e assim me apaixonei pelo cidade, e logo depois, com outros passeios com Américo e Irene Ribeiro, pelo País.
Nesta estada aconteceram vários encontros com artistas locais, momentos dos quais apenas recordo flashes e sensações, mas lembro que estes foram encontros alegres, alguns ficaram mais presentes, como o que relatei.
Agradeço imensamente estes momentos vividos em meus vinte e sete anos e que ficaram carinhosamente em minha memória e compartilho aqui.
Inês Raphaelian
Janeiro de 2024
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