40 anos de uma vida partilhada
Foram muitas as lembranças que ficaram dos quarenta anos de vida em comum com o Nuno.
Uma silenciosa e profunda paz e boa energia que permite continuar a viver em nossa casa.
No verão de 1974 estive pela primeira vez com o Nuno. Lembro a sensação de simplicidade e foi como estar com um franciscano.
Ficámos amigos, descobrimos o gosto pelas artes, música, livros, natureza e viagens.
Tivemos uma grande sintonia estética, que iria ajudar na parceria dos projetos e trabalhos que realizámos.
O respeito mútuo, o espaço próprio de cada um, as opiniões diversas, o respeito às nossas famílias, permitiram uma convivência serena, onde nunca houve um conflito sério.
No final dos anos oitenta comprei um cão Fox Terrier, o Juca da Azóia, o primeiro de três. Depois veio a Jujú e a filha Farrusca, muito inteligentes, que nos fizeram imensa companhia.
Quando Nuno ficou invisual, só tínhamos a Farrusca que desde então nunca mais saiu do seu lado.
Passados quarenta anos, recordo a mesma imagem do franciscano – simples, coerente e solidário – que ficará para sempre como aquelas obras de arte que nos acompanham, mesmo quando mudamos a casa toda.
A perda das pessoas queridas é sempre dolorosa, mas os que deixam boas recordações e energias nos ajudam a continuar a viver e a criar em tempos cada vez mais difíceis.
Irene Buarque, 2021
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