Nuno Teotónio Pereira
Conheci o Nuno já neste novo século. Rapidamente se tornaria numa das pessoas mais notáveis e importantes que alguma vez conheci na vida.
O seu vasto curriculum de pensador, de lutador, de aglomerador de ideias e de esperanças, antecedia-o. Mas este notável historial desvanecia-se ao fim de poucos minutos, com o seu sorriso, a sua atenção, a sua sabedoria conjuntiva. A sua enorme bondade, tão desarmante como contagiante.
Uma bondade perseverante e exigente. De forma sempre delicada, o Nuno ouvia-nos suave e lentamente, pendendo a cabeça, de forma algo oriental. Então sorria, e propunha-nos irmos para cidades futuras.
Irmos, todos. O Nuno agregava comunidades. Juntava pessoas, ideias, possibilidades. Produzia utopias.
Aprendi tanto com ele que me atrevi a fazer-lhe uma dedicatória num dos meus livros sobre cidades e política urbana: ‘o homem-bom por excelência’. Que Lisboa tenha a fortuna de ter algum dia mais alguns homens assim.
Assim fomos tendo conversas. E excelentes almoços, ali para os lados da Praça da Alegria. Almoços longos no espaço e no tempo. Utopias urbanas, distopias humanas, esperanças, preocupações, possibilidades. Sempre muitas possibilidades.
Imaginá-lo-ei sempre assim, onde quer que esteja. Sorrindo suavemente, num espaço-tempo longo, cheio de possibilidades.
João Seixas
Janeiro de 2022