MES / Movimento de Esquerda Socialista 1970 – 1981
A Ditadura Nacional e o seu sucessor Estado Novo (28 de Maio de 1926 – 25 de Abril de 1974) estenderam-se por 48 anos.
Do que tem vindo a ser publicado por historiadores, jornalistas, sociólogos, investigadores, outras/outros, individualmente, e múltiplos colectivos, poderíamos como que estabelecer uma Cronologia Comparativa, do dia-a-dia ao longo desses 17.500 dias.
De um lado anotaríamos os actos repressivos, lesivos dos cidadãos (individual ou colectivamente). Do outro lado a miríade de actos de desobediência, de luta, de oposição, tomados individual ou colectivamente. Isto está, mais ou menos feito, mas de forma esporádica, não Cronológica, o que dificulta a visão dos não especialistas.
Em datas próximas do 25 de Abril de 1974, o acervo do publicado era muito superior ao lado regime deposto. Porém, instalada a II República, a Democracia, a Liberdade, decorridos mais de 46 anos, hoje, penso que a situação se alterou muito. As professoras e os professores de História, convidando para suas aulas testemunhas directas desses actos repressivos, Museus como o do Aljube – Resistência e Liberdade (Lisboa), Museu Nacional Resistência e Liberdade (Fortaleza de Peniche), a miríade de documentos publicados, as TVs, inverteram a situação, sendo claro para a maioria que Fascismo Nunca Mais.
O MES, pelas suas características ideológicas e dos seus fundadores, apenas tem condições para aparecer em finais de 70. Vítor Wengorovius, implicado politicamente em décadas precedentes, como Agostinho Roseta, Nuno Teotónio e eu José Dias, sentíamo-nos estranhos ao PCP, à ASP, às correntes ml / maoístas. Até aí éramos os católicos progressistas. Designação insuficiente e que não nos abrangia a todas /os. Em 21 de Novembro de 70, na rua Duque de Palmela, em Lisboa, no escritório de advogados partilhado por, ente outros VW e Jorge Sampaio. Aí começou a fase do proto-MES ou MES clandestino. Nuno Teotónio, invocando razões familiares e profissionais, não esteve presente, pedindo para que fosse eu a representá-lo.
Por haver uma clara inspiração Rocardiana (Michel Rocard) no grupo, passámos a ser identificados como socialistas de esquerda. Nesta fase clandestina, fiz o papel de clandestino, de montagem de ligações a núcleos que fora nascendo, particularmente os de fora de Lisboa. Roseta foi fundamental na ligação aos quadros operários não PC, que vinham da fundação da Intersindical. VW era advogado de sindicatos e de presos políticos. Nuno é um intelectual, o mais velho, que abre a sua casa e atelier, que partilhava com Nuno Portas, para reuniões clandestinas, abre contactos para a luta anticolonial, se implica em actos públicos arrojados, apesar de já ter estado preso anteriormente.
Neste período 1º do MES 1970-1974, 2 factos vieram a ocorrer que o abalaram, mas porque pequena em organização, alicerçada em grupos pequenos distribuídos pela cintura industrial de Lisboa norte e sul, dezenas de localidades ao longo do continente e nos Açores.
Nuno fica viúvo. Numa gravidez de enorme risco morre a sua Querida Mulher, Camarada, Companheira, Amiga, Maria Natália Duarte Silva (1930 – 1971) e a bebé.
Perdemos a Natália, que sempre me recebeu como um dos seus meninos, uma segunda mãe.
Em Novembro de 1973, o Nuno, Luís Moita e mais umas duas dezenas de camaradas, da estrutura anticolonial, são presos pela DGS. Sou forçado a passar à clandestinidade e a um breve exílio juntos dos amigos do Grupo de Geneve, só podendo regressar a Portugal a 9 de Maio de 1974. Mas o pipeline de documentação anticolonial manteve-se, apesar da brutalidade da repressão a que fora sujeitos algumas e alguns camaradas, de que prestaram testemunho público corajoso, à jornalista Ana Aranha.
Estes tempos foram muito importantes para a fase legal que se segue de 25 de Abril de 1974 a Novembro de 81.
José Dias
Janeiro de 2023