Durante os anos de vida uma pessoa se encontra com várias pessoas que se esquecem ou se lembram para sempre. Nuno Teotónio Pereira era um importante arquitecto. Aqui vou contar o papel que ele representa para mim, uma sueca nascida no norte da Suécia e que agora tem 76 anos.
No ano 1978 eu era professora de línguas (inglês, francês e espanhol) num liceu sueco. Significa férias de verão grandes. Que bom ir a Portugal e participar num seminário sobre a revolução portuguesa! A ideia disso foi lançada por MES, Movimento de Esquerda Socialista, dirigida a países europeus, para mostrar que a transição pacífica duma ditadura para democracia com liberdade, justiça, solidariedade e igualdade era possível. Eu era membro de FK (união comunista, um daqueles pequenos grupos de esquerda naquela época). FK era organização irmã com o MES.
Eu tinha muitas semanas de férias e perguntei se podia chegar uma semana mais cedo e ficar mais tempo depois do seminário. Claro que sim e fui dirigida à casa do Nuno Teotónio Pereira, fundador do MES. A casa do Nuno era aberta a muitas pessoas, era cheia de vida. E claro fiz conhecimento com a família dele, sobretudo a Helena.
Durante o seminário, com participantes de diferentes países europeus, visitámos o campo, as aldeias e as montanhas. Estávamos engajados para um mundo melhor onde reinava liberdade, igualdade e justiça.
O Nuno mostrou-me Lisboa, com orgulho e alegria, contou-me a história de diferentes casas e bairros. Nuno, o arquitecto famoso, não sabia que eu uma vez durante a minha juventude queria ser arquitecta. Eu fiz desenhos e planos para casas de diferentes tamanhos. Agora o Nuno mostrou-me casas tão bonitas, com azulejos nas paredes exteriores, em cores magníficas. Lisboa sobre sete colinas com os maravilhosos eléctricos subindo e baixando as ruas estreitas duma colina a outra era para mim uma sensação de felicidade.
O Nuno passou muito tempo comigo e o meu espanhol tornou-se português. Assistimos a reuniões políticas à noite, e eu consegui seguir as discussões.
Música é importante e o fado entrou no meu coração. Música, como arte, tem raízes históricas e faz parte duma civilização.
Todas as experiências e sentimentos resultaram em que eu decidi ir trabalhar como voluntária em África e claro, foram as ex-colónias portuguesas onde eu queria ir. O Nuno era com certeza o grande arquitecto atrás desta decisão.
Em 1979 fui para Moçambique, com contrato de dois anos. Aí encontrei um médico sueco, Staffan, que é o meu marido. Depois de Moçambique fomos a São Tomé e Príncipe, para dois anos, uns breves trabalhos em Cabo Verde e Guiné Bissau, e depois Angola em 1990.
Nuno tinha amigos africanos, entre outros Joaquim Pinto de Andrade, a quem ele nos apresentou, Joaquim e sua mulher Tó, em Angola. Foi muito útil para nós, a mim e o meu marido. Joaquim e Tó nos explicaram a vida diferente aí. Angola não era um pais “fácil” para dois suecos naquela altura, com uma guerra civil e corrupção de alto nível.
Com as experiências deste verão em Portugal, e várias visitas depois, e com o Nuno como o grande inspirador a minha vida mudou. Tornou-se mais ampla, mais rica. E por causa do Nuno vivo com a sensação que Lisboa é a minha capital – não Estocolmo.
“Uma casa portuguesa com certeza, com certeza uma casa portuguesa ….”
(Amália Rodrigues)
Karin Solum (Suécia)
Agosto de 2021
CONTEÚDOS RELACIONADOS
– Movimento de Esquerda Socialista (MES)