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Karin Solum

Foto de Karin a conversar com o Nuno, ambos sentados num sofá de casa do Nuno em Lisboa, em 2011
Karin com Nuno, em Lisboa (2011)

Durante os anos de vida uma pessoa se encontra com várias pessoas que se esquecem ou se lembram para sempre. Nuno Teotónio Pereira era um importante arquitecto. Aqui vou contar o papel que ele representa para mim, uma sueca nascida no norte da Suécia e que agora tem 76 anos.

No ano 1978 eu era professora de línguas (inglês, francês e espanhol) num liceu sueco. Significa férias de verão grandes. Que bom ir a Portugal e participar num seminário sobre a revolução portuguesa! A ideia disso foi lançada por MES, Movimento de Esquerda Socialista, dirigida a países europeus, para mostrar que a transição pacífica duma ditadura para democracia com liberdade, justiça, solidariedade e igualdade era possível. Eu era membro de FK (união comunista, um daqueles pequenos grupos de esquerda naquela época). FK era organização irmã com o MES.

Eu tinha muitas semanas de férias e perguntei se podia chegar uma semana mais cedo e ficar mais tempo depois do seminário. Claro que sim e fui dirigida à casa do Nuno Teotónio Pereira, fundador do MES. A casa do Nuno era aberta a muitas pessoas, era cheia de vida. E claro fiz conhecimento com a família dele, sobretudo a Helena.

Durante o seminário, com participantes de diferentes países europeus, visitámos o campo, as aldeias e as montanhas. Estávamos engajados para um mundo melhor onde reinava liberdade, igualdade e justiça.

O Nuno mostrou-me Lisboa, com orgulho e alegria, contou-me a história de diferentes casas e bairros. Nuno, o arquitecto famoso, não sabia que eu uma vez durante a minha juventude queria ser arquitecta. Eu fiz desenhos e planos para casas de diferentes tamanhos. Agora o Nuno mostrou-me casas tão bonitas, com azulejos nas paredes exteriores, em cores magníficas. Lisboa sobre sete colinas com os maravilhosos eléctricos subindo e baixando as ruas estreitas duma colina a outra era para mim uma sensação de felicidade.

O Nuno passou muito tempo comigo e o meu espanhol tornou-se português. Assistimos a reuniões políticas à noite, e eu consegui seguir as discussões.

Música é importante e o fado entrou no meu coração. Música, como arte, tem raízes históricas e faz parte duma civilização.

Todas as experiências e sentimentos resultaram em que eu decidi ir trabalhar como voluntária em África e claro, foram as ex-colónias portuguesas onde eu queria ir. O Nuno era com certeza o grande arquitecto atrás desta decisão.

Em 1979 fui para Moçambique, com contrato de dois anos. Aí encontrei um médico sueco, Staffan, que é o meu marido. Depois de Moçambique fomos a São Tomé e Príncipe, para dois anos, uns breves trabalhos em Cabo Verde e Guiné Bissau, e depois Angola em 1990.

Nuno tinha amigos africanos, entre outros Joaquim Pinto de Andrade, a quem ele nos apresentou, Joaquim e sua mulher Tó, em Angola. Foi muito útil para nós, a mim e o meu marido. Joaquim e Tó nos explicaram a vida diferente aí. Angola não era um pais “fácil” para dois suecos naquela altura, com uma guerra civil e corrupção de alto nível.

Com as experiências deste verão em Portugal, e várias visitas depois, e com o Nuno como o grande inspirador a minha vida mudou. Tornou-se mais ampla, mais rica. E por causa do Nuno vivo com a sensação que Lisboa é a minha capital – não Estocolmo.

“Uma casa portuguesa com certeza, com certeza uma casa portuguesa ….”
(Amália Rodrigues)

Karin Solum (Suécia)
Agosto de 2021


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