Assuntos pessoais

Miguel Judas

Não posso dizer que conheci o Nuno, cruzei-me com ele… E lembro-me de cada uma das vezes.

O Manuel Graça Dias escreveu, e dizia, que era um homem terno. Uma coisa que não se costuma escrever acerca de homens adultos. Acho que o Manuel tinha razão.

A 20 de Janeiro de 2016, aquele dia, contei uma história sobre uma viagem com o Nuno. Foi uma viagem e peras. Resumida ao mais divertido, porque foi muito divertida.

Há uns anos fui com o Nuno Teotónio Pereira para o Porto – Uma coisa qualquer da Ordem dos Arquitectos… – Apanhei-o em casa.

Senta-se no carro, no lugar do morto, e avisa: “ouço mal, vai ter de falar alto”.

À saída de Lisboa, já íamos “a queimar” a hora…

Disfarçadamente, para os passageiros não darem por ela, fui “pisando o prego”, acho que nunca baixei dos 160. A meio, o Nuno diz: “Vamos parar para comprar uns chocolates”… Resto do caminho: 180 para cima! O Nuno, de chocolate na mão… Impassível.

No Porto, paramos junto ao Coliseu, saímos do carro e damos de caras com o João Bénard da Costa e o Manuel Oliveira.
Começam na conversa… Vejo-me aflito para, com elegância, o pôr a caminho.

No regresso, repete-se a pressa.

Venho na mecha – mesmo na mecha! – a ver se, como antes, ninguém dava por isso. Ele, nada…

Tudo em silêncio… Eu a pensar: “Vai tudo à rasca, nem piam”.

Paro o carro à porta dele, duas e tal da manhã, feito num fanico pela tensão, ele diz-me: “Excelente condução, você conduz muito bem. Querem subir para comer uma sopinha?”

Viva o Nuno!

Miguel Judas
Janeiro de 2022


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