Eu viajei muitas vezes com o Pai por Portugal, incluindo os Açores, e por Espanha, aproveitando essas oportunidades sempre que pude.
Ele, nessas andanças, apesar de ter propósitos específicos, tentava sempre ver mais, metia-se pelas pequenas estradas, algumas em terra batida, para vasculhar o território, a natureza e conversar com quem aparecesse.
Os Açores sempre foram para ele um local muito querido, não fosse ele um “meio ilhéu”. Em Agosto de 1993, organizou e financiou uma ida lá com a família próxima, a nossa primeira ida às ilhas que me deslumbraram de tanta beleza! Lá, consegui encaixar todas as pequenas histórias descartadas que sempre tinha ouvido, até o facto das hortências estarem sempre presentes em casa dos meus Avós em Lisboa.
A raia sempre foi o seu território preferido, talvez porque o marcou desde a sua juventude.
A descida do Guadiana em Setembro de 1973, desde Monte da Barca até à foz, com o Pai, o Mário Brochado Coelho e o Jochen Bustorff, nunca esquecerei.
O percurso foi feito em etapas diárias, a partir de um mapa militar que levámos e 2 canoas desmontáveis vindas da RDA, de 2 lugares cada, já estreadas na descida do Douro um ano antes.
A equipa de apoio com o Júlio, a Maria Alice e outros ia de carro, encontrávamo-nos nas margens do rio para comer e acampar, tendo sempre em conta a proximidade de aldeias – uma organização imbatível em época não digital!
Aqui vão alguns momentos que ficaram na minha memória, sabendo que, passados tantos anos, podem já estar um pouco baralhados:
– Um belo rio caudaloso, ainda com pescadores
– Moinhos de água que tínhamos que contornar por terra com a canoa às costas. Embora já todos parados, encontrámos um dia, por acaso, um velho moleiro e o seu burro junto ao seu moinho, onde às vezes ainda lá ia moer o cereal.
– Uma refeição singular à beira-rio, com pescadores que encontrámos e logo se dispuseram a fazer lume para grelhar algum do peixe apanhado nesse dia, entre muita e boa conversa.
– Ao fim da tarde, acabada a etapa, sabendo que havia uma aldeia a alguns quilómetros do rio, fomos ao seu encontro a ver se poderíamos lá comer. Lá chegados, começámos a ouvir vozes masculinas a cantar, que nos dirigiram até uma pequena tasca onde comemos e confratizámos com esses alentejanos mas, a partir de certa altura, alguém nos disse que o canto tinha que acabar, senão a GNR vinha aí! Mal sabíamos todos que estávamos tão perto do 25 de Abril!
Helena