Encontrei o Nuno pela primeira vez em Setembro de 1967 quando projectava vir viver para Lisboa, donde a minha mulher é natural. Queria orientações para escolher uma profissão, numa altura em que um estrangeiro só podia exercer uma profissão se não houvesse um português para esse posto. Além das informações pedidas o Nuno emprestou-me o seu carro para dar um passeio fora de Lisboa no dia seguinte. Ficou-me este gesto pouco comum profundamente marcado.
Em 1969, quando chegamos a Lisboa, reencontramos o Nuno e a Natália em múltiplos encontros do que se veio a chamar os ‘católicos progressistas’, reflexões religiosas que nunca estavam alheias ao social e político, como a ‘Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos’ e as guerras coloniais.
No cemitério de Lumiar, no enterro da Natália em 1971, o Nuno ofereceu a cada um dos participantes um dos cravos vermelhos das coroas de flores funerárias, disseminando os cravos na cidade. Depois do Nuno ter sofrido a prisão pela PIDE, cravos iguais multiplicaram-se em Lisboa e no país libertado pelo 25 de Abril.
Depois do 25 de Abril os múltiplos compromissos políticos e profissionais tornaram os convívios menos frequentes, mas o Nuno estava sempre disponível quando se lhe pedia um serviço. Tive o privilégio de o acompanhar novamente de perto nos últimos anos da sua vida.
Jean Pierre Catry
Dezembro de 2021